terça-feira, 7 de fevereiro de 2017


 

Por Frannes de Oliveira

Ainda hoje é de uso corrente entre muitos headbangers o termo underground, usado indiscriminadamente, mas com um contexto inovado: aquela reunião de amigos regada a uma cerveja gelada e muito metal, ou, o público que celebra nos shows suas bandas favoritas são alguns exemplos desse espírito.
Mas, o que realmente se convencionou a chamar underground? Ele ainda existe de fato como algo que marca uma determinada cena?
Se fizermos uma análise do termo veremos que under significa 'abaixo' e ground, 'lugar', 'solo'. Assim, underground significaria, numa tradução livre, algo como 'subsolo', ou, mais precisamente, 'submundo'. Mas o que isso tem haver com o meio específico dos batedores de cabeça? Por que underground e não um outro termo?
Bem, para entender isso é preciso antes compreender o contexto sócio-econômico no qual surgiu o cenário formado por headbangers ansiosos por uma diversão diferente; pessoas desejosas em produzir algo novo, o surgimentos das primeiras bandas e todo um panorama que começava a se descortinar, mas sem um terreno firme que pudesse servir de alicerce.
Houve uma época em que tudo era difícil e muito do que se produzia em termos de música alternativa e pesada, assim como eventos, aconteciam pela motivação de algumas pessoas que ansiavam em ver algo concretizado. Ainda vivia-se o espírito punk com o lema do it yourself (faça você mesmo!). Aliás, verdade seja dita, aqui no Brasil, muito se deve à iniciativa dos punks que deram vários ponta-pés iniciais e dos headbangers de Minas Gerais que também colocaram a mão na massa e, é claro, sem cair no minimalismo, em alguns dos vários Estados desse imenso continente alguém deve ter feito o mesmo à sua maneira.
O fato é que quando surgiram as primeiras iniciativas que visavam consolidar um cenário para eventos que levasse ao público insipiente o som vindo da Europa e EUA, mas com as bandas nacionais que aqui já existiam, muitos dispunham de 'quase nada' ou apenas do pouco que recebiam como salário. A escassez de recursos levou os interessados a produzir a partir daquilo que dispunham. Algumas bandas tocavam com instrumentos confeccionados artesanalmente; os locais de ensaios eram precários, geralmente garagens apertadas e escaldantes. Mesmo assim, muitas bandas vingavam e levavam ao público suas composições que eram curtidas num frenesi ritualístico de shows empolgantes e marcantes.
Os primeiros registros dessas bandas eram disseminados através das demo tapes, ou fitas demonstração; algo que ainda se faz uso em nossos dias, mas aqui também temos a ‘inovação’ do suporte (hoje temos o cd-demo). E quando as bandas se multiplicaram, chegando a um número considerável e consolidando um cenário, elas não dispunham de veículos de divulgação. Foi assim que surgiram as 'revistas do fã', ou fan magazines, que posteriormente ficaram conhecidas apenas como 'fanzines'; eram produções totalmente caseiras feitas pelos discípulos do movimento, cada qual expressando o fim a que se destinava dentro do cenário.
O passo seguinte foi o registro das composições em vinil, que também veio de forma independente. Até mesmo o conhecimento para se produzir um álbum deixava a desejar, pois não se tinha muita noção disso, e aqui também os recursos eram baixos. Muitos vinis saíam com qualidades ruins, outros razoáveis; os encartes eram, na maioria das vezes, feitos manualmente, com letras e ficha técnica escritos à mão.
Vivenciava-se o underground, que nada mais era do que essa condição independente e precária que as produções assumiam. Aliás, underground é sinônimo de independente, refere-se aos meios diversos utilizados por headbangers, punks, entre outros, para se afirmar dentro de um cenário em plena ascensão, mas que não era absorvido pelos meios de comunicação convencionais existentes.
Atualmente, com a definição dos espaços musicais na mídia, muito dessas organizações primárias e produções independentes se perdeu. Existem gravadoras e revistas especializadas apenas em rock e metal, assim como espaços próprios para apresentações de bandas desses gêneros. Aos poucos, aquele underground do faça você mesmo foi desaparecendo por não se ter mais as necessidades impostas de antes. Um exemplo disso, são os fanzines, que atualmente -- salvo uma boa parcela de fieis a essas produções independentes que buscam mantê-las em circulação --, não são mais tão cultuadas devido o advento da internet que criou os zines digitais e os blogues. E o que antes era verdadeiramente definido como underground, hoje, tornou-se apenas um termo perdido nas bocas de muitos headbangers que ao menos procuram manter seu espírito vivo em atitudes.

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