Por Frannes de Oliveira
Ainda
hoje é de uso corrente entre muitos headbangers
o termo underground,
usado indiscriminadamente, mas com um contexto inovado: aquela
reunião de amigos regada a uma cerveja gelada e muito metal, ou, o
público que celebra nos shows suas bandas favoritas são alguns
exemplos desse espírito.
Mas,
o que realmente se convencionou a chamar underground?
Ele ainda existe de fato como algo que marca uma determinada cena?
Se
fizermos uma análise do termo veremos que under
significa 'abaixo' e ground,
'lugar', 'solo'. Assim, underground
significaria, numa tradução livre, algo como 'subsolo', ou, mais
precisamente, 'submundo'. Mas o que isso tem haver com o meio
específico dos batedores de cabeça? Por que underground
e não um outro termo?
Bem,
para entender isso é preciso antes compreender o contexto
sócio-econômico no qual surgiu o cenário formado por headbangers
ansiosos por uma diversão diferente; pessoas desejosas em produzir
algo novo, o surgimentos das primeiras bandas e todo um panorama que
começava a se descortinar, mas sem um terreno firme que pudesse
servir de alicerce.
Houve
uma época em que tudo era difícil e muito do que se produzia em
termos de música alternativa e
pesada, assim como eventos,
aconteciam pela motivação de algumas pessoas que ansiavam
em
ver algo concretizado. Ainda vivia-se o espírito punk
com o lema do
it
yourself (faça
você mesmo!).
Aliás, verdade seja dita, aqui no Brasil, muito se deve à
iniciativa dos punks
que
deram vários ponta-pés iniciais e dos headbangers
de Minas Gerais que também colocaram a mão na massa e, é claro,
sem cair no minimalismo, em alguns dos vários Estados desse imenso
continente alguém deve ter feito o mesmo à sua maneira.
O
fato é que quando surgiram as primeiras iniciativas que visavam
consolidar um cenário para eventos que levasse ao público
insipiente o som vindo da Europa e EUA, mas com as bandas nacionais
que aqui já existiam, muitos dispunham de 'quase nada' ou apenas do
pouco que recebiam como salário. A escassez de recursos levou os
interessados a produzir a partir daquilo que dispunham. Algumas
bandas tocavam com instrumentos confeccionados artesanalmente; os
locais de ensaios eram precários, geralmente garagens apertadas e
escaldantes. Mesmo assim, muitas bandas vingavam e levavam ao público
suas composições que eram curtidas num frenesi ritualístico de
shows empolgantes e marcantes.
Os
primeiros registros dessas bandas eram disseminados através das demo
tapes,
ou fitas demonstração; algo que ainda se faz uso em nossos dias,
mas aqui também temos a ‘inovação’ do suporte (hoje temos o
cd-demo). E quando as bandas se multiplicaram, chegando a um número
considerável e consolidando um cenário, elas não dispunham de
veículos de divulgação. Foi assim que surgiram as 'revistas do
fã', ou fan
magazines,
que posteriormente ficaram conhecidas apenas como 'fanzines'; eram
produções totalmente caseiras feitas pelos discípulos do
movimento, cada qual expressando o fim a que se destinava dentro do
cenário.
O
passo seguinte foi o registro das composições em vinil, que também
veio de forma independente. Até mesmo o conhecimento para se
produzir um álbum deixava a desejar, pois não se tinha muita noção
disso, e aqui também os recursos eram baixos. Muitos vinis saíam
com qualidades ruins, outros razoáveis; os encartes eram, na maioria
das vezes, feitos manualmente, com letras e ficha técnica escritos à mão.
Vivenciava-se
o underground,
que nada mais era do que essa condição independente e precária que
as produções assumiam. Aliás, underground
é sinônimo de independente, refere-se aos meios diversos utilizados
por headbangers,
punks,
entre outros, para se afirmar dentro de um cenário em plena
ascensão, mas que não era absorvido pelos meios de comunicação
convencionais existentes.
Atualmente,
com a definição dos espaços musicais na mídia, muito dessas
organizações primárias e produções independentes se perdeu.
Existem gravadoras e revistas especializadas apenas em rock e metal,
assim como espaços próprios para apresentações de bandas desses
gêneros. Aos poucos, aquele underground
do faça você mesmo foi desaparecendo por não se ter mais as
necessidades impostas de antes. Um exemplo disso, são os fanzines,
que atualmente -- salvo uma boa parcela de fieis a essas produções
independentes que buscam mantê-las em circulação --, não são mais
tão cultuadas devido o advento da internet que criou os zines
digitais e os blogues. E o que antes era verdadeiramente definido
como underground,
hoje, tornou-se apenas um termo perdido nas bocas de muitos
headbangers
que ao menos procuram manter seu espírito vivo
em atitudes.
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